Cantor Denis Graça renúncia a nomeação para os CVMA

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O artista, que estava nomeado na categoria Melhor Kizomba, publicou, na sua página no Facebook, uma carta aberta renunciado ao evento musical.

Para além de renunciar, Denis Graça, questionou ainda algumas nomeações, sem citar nomes, de alguém com uma obra e estar em várias categorias.

Leia a carta na integra: 

Povo de Cabo-Verde, Cabo-Verdianos na Diáspora, colegas músicos e demais interessados:
Partilho convosco a carta da minha renúncia à CVMA, melhor, a esta CVMA, ficando eu sujeito à v/ crítica e apreciação. Este é o meu grito de revolta.

A vós, a quem tudo devo,

Respeitosamente,

DG RECORD,
Denis Graça

CARTA DE RENÚNCIA À CVMA
Mérito ou Conveniência (?!?)

…, Nós não fazemos Kizomba…! O que é Kizomba? De onde emerge o termo Kizomba? Kizomba reporta a música, dança ou a algum outro vínculo de natureza cultural?
Se eu, o senhor Cabo Zouk, nascido em Cabo-Verde, filho de cabo-verdianos, com “DNA” cabo-verdiano, se as minhas pintas são, orgulhosamente, ostentações das minhas origens e reflectem o meu orgulho, espelho da minha bandeira, porquê, então, teimar em dizer que um filho meu tem “DNA” que foge às minhas pintas, desculpem, origens?
Obviamente que esse filho não é meu, esse filho é um filho BASTARDO…!
Mas, se eu, a senhora Kizomba, que não sou música, não me chamo música, mas sim uma outra metade de algo que se chama música, encontro-me com esse senhor, de nome Cabo-Love, Cabo Zouk…, e, ostento, face a ele, toda uma exímia capacidade de articular uma dança linda, sedutora, estética, criativa, única para os lados onde eu nasci, e ele se apaixona e convida-me ao namoro, desculpem, à dança, desculpem ainda, a kizombar, Devo recusar?
E, não é que começamos, mesmo, a namorar, desculpem novamente, a dançar/kizombar? Ora, a partir daí “a coisa pegou”, virou moda e…, nasceu um filho. “A pedido” de um amigo de longa data, a quem fazemos vénia, o seu nome passou a ser Kizomba. No país desse amigo de longa data, nasceu o nosso filho: foi aí que o/a nosso/a Kizomba começou a cantar e a dançar. Tanto cantou e dançou que encantou, e, então, o/a Kizomba deixou de ser conhecido/a como a harmonia do canto e da dança/passada, para ser somente a música.
Emergiram os glutões, os sugadores de sangue/suor de diferentes quadrantes: vampiros que sugavam, consoante os galhos onde se penduravam (rádios, jornais, esqueléticos empresários de eventos em discotecas, festivais, atribuição de prémios, etc…), sanguessugas que se colavam à pele, vivendo à custa do dom de terceiros (uns pendurados nos mesmos galhos, e, outros, noutros…), todos, sem o mínimo escrúpulo, tentando beber, até à última gota, o sangue daqueles que, arduamente, lutavam para construir um conteúdo, uma música, um hino, uma nação. Salvaguardam-se aqueles, bem poucos, que se distanciaram desse crepúsculo aterrador.
Os tempos foram passando, e hoje, depois de 20 anos de carreira, sinto o calor daqueles que nunca me abandonaram, a quem nunca defraudei, e, com quem fiz um pacto explícito de longa duração: sinceridade, entrega total e produção de trabalhos de excelência na qualidade. Esses são o povo, aqueles por quem os artistas devem ter o máximo respeito. É para o povo que eu canto: os pais do meu povo, os irmãos do meu povo, as crianças do meu povo. É com orgulho que ostento uma bandeira que diz: uma criança ouve a nossa música e eleva o seu coração. É o povo que luta por mim contra aqueles que estão pendurados em galhos, entretecendo laços difíceis de evitar.
Iniciamos a nossa carta encimada por um título de renúncia à CVMA, questionando: Mérito ou Conveniência? Os que se penduram em galhos, foram saltando de galho em galho, mudando de corpo e indumentária e em sequências de convites, amiguismos e outros interesses, tendo, supostamente, formado um grupo “todo o terreno”, para, a seu belo prazer, atribuir galardões, a maior parte das vezes sem mérito, e com claros sinais de conveniência:
1. Nomear alguém que somente tem uma obra…!?, em várias categorias, face a um mar de artistas que tanto trabalharam para honrar o país!! Isto é mérito ou conveniência?
2. Nomear alguém, por contiguidade familiar e outras aproximações! Isto é mérito ou conveniência?
3. Nomear alguém por laços sentimentais! isto é mérito ou conveniência?
4. Escolher elementos sem competência para avaliar questões musicais, que, encimados e com um microfone à frente dizem: este ano vamos ser rigorosos na análise das músicas, batidas… !!, isto é mérito ou conveniência?
5. Trazer avaliadores de outros países/culturas para apresentar o evento (e não estamos a falar de patrocinadores), que não têm nenhuma ligação a Cabo-Verde!, isto é mérito ou conveniência?
6. Deixar de lado, e por que razões?, artistas que estão no top das preferências, por meses consecutivos, em cabo verde!, isto é mérito ou conveniência?
7. Gerar climas de tensão/emoções entre o que é música tradicional de Cabo-Verde e outras mais recentes, quando todas são cantadas por Cabo-Verdianos!, isto é mérito ou conveniência?
8. Fingir esquecer nomes de cabo-verdianos espalhados por este mundo fora, com capacidades vocais bem acima da média e de excelência!, isto é mérito ou conveniência?
9. Humilhar artistas dizendo que uma determinada música, que até venceu em uma categoria (anos anteriores), não era música, porque era um African house, e dizia vezes sem conta “já bo cre mas”!, isto é mérito ou conveniência?
10. Esquecer-se de apontar a música “Conta ma mi”, foi esquecimento ou premeditado?
11. Não levar em conta a vontade do povo expressa nas suas preferências, e.g., “Famosos de Cabo-Verde, Facebook CVMA e várias páginas de Facebook de diferentes pessoas!, é mérito, conveniência, ou …!?…
Entre muitas outras situações, contabilizei estas como as mais mediáticas, andam na boca do povo, mostram que o povo está revoltado. É impossível tapar o sol com uma peneira…! Não vejo sinceridade, competência, isenção e lisura nas movimentações do corpo CVMA.
Para terminar realçamos um carácter negligente, desafiador e de baixo nível, da CVMA relativamente ao músico Denis Graça:
• Entre todas as situações apontadas, o espírito de desafio da CVMA é exacerbado, e ostensivamente projectado ao nomearem o músico Denis Graça na categoria “Melhor Kizomba”! Melhor Kizomba? Onde está a idoneidade e a competência do júri da CVMA, como regulador do relacionamento interpessoal e na resposta que deverão dar ao povo de Cabo-Verde? Em vez de normalizarem o clima social, eles mesmos lançam achas para a fogueira! Bravo CVMA: que carácter!?
• Numa das minhas digressões, ao Brasil, um jornalista brasileiro inquiriu-me: …de que cidade Angolana você é? Ora, aí está: Kizomba/Angolano, cantor de “Kizomba”, ainda que Cabo-Verdiano/“Angolano”…; Nós, como músicos, símbolos culturais de Cabo-Verde, somos embaixadores de Cabo-Verde nos quatro cantos da terra…! Não é Cabo-Verde um dos muitos símbolos turísticos no mundo…! Porquê, então, sendo eu Cabo-Verdiano, estou a representar, sem saber, uma outra nação? Está tudo dito.
O que é que acham? Não são as razões apresentadas, ao longo da presente, motivos mais do que suficiente para nos renunciarmos a qualquer nomeação da parte da CVMA? Não posso pedir que, seja ele que for, se renuncie, mas, EU, Denis Graça, renuncio-me publicamente, e de cara levantada, a toda e qualquer nomeação que venha da CVMA, melhor, desta CVMA.

BEM-HAJA, Cabo-Verdianos,
DG Records
Denis Graça